antônima

deixe assim fique assim mesmo menina
com esse moletom que eu gosto tanto
com esse coque bagunçado feito seus pensamentos
e arraste as pantufas com essa cara de sono

termine no sofá com um braço pendendo
como se sentisse um rio a passar
por debaixo desse monte de almofadas
e deixe as cartas mortas sob a porta da frente

para logo um chá ou um café
e belisque um pouco numa xícara de flor
esbarrada na porta da varanda
olhando aquela imensidão de cimento e janelas

pingue um bocadinho d’água nas flores do parapeito
só para não dizer que nada aí é feliz
e leia um pouco daquelas coisas sobre o amor
e escute um pouco daquelas coisas sobre o amor

não esqueça que da porta para fora és outra viu
que não se importa e que é livre de si mesma
é que assim ninguém percebe que és sozinha
e ninguém saberá que se divide em duas no chão do banheiro

mas deixe assim fique assim mesmo menina
com esse sorriso sem batom nem nada
com esse coração bagunçado como o deixei
e eu vou pr’aí morar contigo