menina do céu

disseram-me que era feita de céu
e eu ressabiado logo pensei
onde caberiam as estrelas todas
nesse corpo ainda breve

disseram-me também
que a lua fazia-se duas
para formar-lhe os olhos
e que o sol era todo o seu coração

que caraminhola eu pensei
não há luz na lua
então as estrelas todas moram na cabeça
para fazer da lua dos olhos dela um farol

e que maldade há nessa moça
de coração feito de sol
que vive a queimar amores guardados
que nem bem se aquecem já viram logo cinzas

eu é que não moro lá
prefiro os amores mais gelados
que refrescam as mãos e a alma
ao invés de as incendiar

mas faço gosto de conhecer tal moça
quem sabe um dia não lhe passo um café
e vou querer saber dela logo de cara
como se faz para recuperar amores estragados pelo sol do peito

e tomara deus que a luz dos olhos dela
não acabem por me cegar inteiro
e que o coração de sol ardente e mau
permita-me a sombra dos amores gentis

disseram-me que se tratava de uma moça
que mais parecia um universo inteiro
feita de céu estrelas sol lua e cinzas
dos amores todos que morriam em seu peito

me conte menina do céu
por que incineras amores guardados
em teu peito há mortos cremados
fazendo um cemitério de amores

faço que juro com os dedos
e não abro o bico para mais ninguém
se me contares quantos amores tens
mortos em teu coração