luminárias da rua

os lábios se esqueciam aos poucos
das palavras todas do mundo
que cediam lugar gentilmente
aos respiros ofegantes dos dois

e as luminárias da rua
que são sentinelas fiéis
guardavam a passagem calma
do amor de mãos reunidas

o vento bem mansinho
espalhava os perfumes comuns
e bagunçava os pensamentos
que coligiam ao mesmo fim

aquele amontoado de luzes altas
que pareciam velas eternas
imitavam com algum sucesso
os tempos dos amores antigos

a rua à meia-luz
cabia num bolso
daquele menino roubador
das mãos miúdas da moça

e os passos já desapertados
almejavam o eterno
ou uma demora daquelas
que fazem todos os para sempre

a neblina escorregava nas folhas
brincando de ser chuva
enquanto a soleira da porta
suportava impaciente o peso de dois

olhares diagonais colidiam
e os fôlegos esfumaçados
cogitavam o encontro
das bocas inquietas por demais

um cuidado muito lento
cicatrizava os olhos úmidos
e a beleza dos rostos juntos
era velada pelas luminárias da rua