olhava para o céu inteiro
esparramado numa grama qualquer
pois ouviu dizer que o amor vinha de lá
daquela lonjura mirabolante dos céus
mas que não era estrela nem sol
não era nuvem nem lua
ficava cuidado num canto
e não era muito de dar as caras
mas o menino ainda olhava para o céu
clemente e deslumbrado
sabia que as coisas raras carecem
de atenção e um bocado de paciência
queria saber se o amor era um cometa
e se brilhava e se doía
e como fazia
para despencar de lá aos corações
deitava ele e um apanhador de borboletas
queria apanhar o amor num descuido
quem sabe caberia nas mãos
quem sabe caberia no peito
tudo culpa dela
disse não sentir amor por ele
e ele que tratasse logo de ajeitar
outro amor na rua ou sei lá onde
era um bom plano
engaiolar o amor e dar-lhe de comer
e de beber e de vestir
até madurar e ser grande
ouviu dizer que amores grandes perduram
e que não se recusa uma coisa dessas
amores imensos são vistos de longe
e não há como perdê-los nem se partem
queria o amor maior de todos
que não coubesse em lugar nenhum
a maior coisa do mundo inteiro
feita para ser livre e não apanhada
se fosse assim ele pensou
ela acabaria por ficar sem
era uma linda moça mas pequena
pouca demais para o imenso do amor
e se fosse assim ele pensou
ela teria mesmo razão
não poderia sentir por ele algo assim
que sequer lhe cabe dentro do coração