diálogo II

maria
por que tu me esperas aí sozinha
e mesmo sem saber s’eu voltaria
tens mesmo a coragem de um leão

decerto
ficar a te esperar é um deserto
com água a faltar um tiro certo
que mata à bala o meu coração

mas diga
se tanto tempo faz a sua lida
e o tanto que perdeste da tua vida
posta à mostra a me esperar

não conto
nem sei há quanto tempo me apronto
com cartas de amor vestido longo
prostrada feito noiva no altar

maria oh mulher
a que descuido tolo você se meteu
quem olha assim já pensa logo que fui eu
quem a jogou ao desmazelo

com isso não me importo
embora suja vê-se logo tenho modos
letrada casta dentes todos e bons ossos
que esperariam um milênio pelo amor

pois bem eu admito
tamanha é a felicidade que eu sinto
por regressar em vida depois dos conflitos
aos quais a guerra finda me impôs

mas onde estão os homens
suas famílias os esperam como eu
que esperei por tanto tempo pra te ver
por que chegaste aqui sozinho

maria as console
diga que foram muito bravos nunca moles
mas que não voltam hoje ou nunca às suas proles
porque a terra os levou

deus não admito
que só poupaste uma vida dos conflitos
minha alegria é dividida com o aflito
daqueles que perderam os seus

maria deus não há
e desça logo dessa espécie de altar
vamos à casa pois já chega de esperar
eu já estou aqui contigo