dizem que as casas sozinhas
são danadas para guardarem fantasmas
fantasmas e seus lençóis
fantasmas de seda
e que as cortinas grávidas das casas sozinhas
com suas barrigas aumentadas
quando aumentam-se os ventos
parem fantasmas aos bocados
dizem também que as casas habitadas
por pessoas e crianças desmazeladas
admitem fantasmas e monstros
que proliferam quanto mais bagunça houver
e as mães têm sempre essa desculpa
que deixam as orelhas das crianças em pulgas
com medo da gravidez das cortinas
e da imensidão que há debaixo da cama à noite
se molengar pro banho
há fantasmas ao pé à noite
se rejeitar comidas coloridas
há fantasmas ao pé à noite
o pai se aqui estivesse
tacava logo um castigo
e obrigava o banho apressado
e espantava com bravura os fantasmas de seda
dizem que os fantasmas todos
saem das pessoas que dormem para sempre
e se escondem atrás das cortinas
que engravidam e parem com o vento
então vou contar logo pra mãe
que há fantasmas bons
que vêm das pessoas boas
pessoas que dormem para sempre
então vou molengar pro banho
e vou rejeitar as comidas coloridas
para ver se um fantasma de seda
acalenta meus pés gelados nas noites de frio
dizem que as casas habitadas
por pessoas sozinhas e desabitadas
são danadas para abrigarem saudades
que parem lágrimas aos montes
e dizem que os fantasmas de seda
são feitos com a saudade das pessoas metade
cuja outra parte mora junto das pessoas que dormem para sempre
mas que retornam para trás das cortinas
então vou contar logo pra mãe
que de um modo bastante gentil
as pessoas boas sempre voltam
e que merecem as sedas e as saudades
vou dizer que os fantasmas de seda
não devem inculcar medo
e que as saudades vão embora
com os ventos que os trazem de volta