percebi uma moça noutro dia: a fuça entupida por um bocado de pintura; nascia-lhe, portanto – de modo demasiado lento -, uma trincheira, parida à luz por uma mágoa densa que descia-lhe por sobre o rosto. aquela fissura honesta fez-me pensar no ridículo que temos sob a pele: estamos sempre a lamentar por coisas muito desimportantes por toda a vida. aquela cabeça estúpida estava a parecer uma zona de guerra, ou um campo de batalha no qual morriam todas as suas pessoas de uma só vez. pareceu-me, de súbito, importante o choro; mas, logo o tolo da ideia se esvaiu. era só uma dessas coisas que ganham relevância no ato, na fúria ou no público das observações. pouco depois, já pertencia à moça a fina ilusão de há sempre algo feliz a nos pertencer após uma dessas tragédias gregas. enxugou com os pulsos o úmido do rosto, misturou os braços como estivesse a torcê-los, alavancou o nariz ao alto dos céus e pôs-se ao maduro do olhar: cravado e vigoroso. fantasiava nunca mais sofrer dali em diante; mas, sabia que viria a falhar repetidamente – e sem nenhuma demora – noutro amor: de algum modo, o amor está sempre a nos fazer falhar.