o amor esquecido

as pessoas esqueceram no bolso das calças o bocadinho de amor que lhes restava. e deitaram-nas às máquinas para lavar. ali, enclausurado junto aos amontoados de roupa, permanecia represado o amor. afogava-se junto às imundícies das coisas usadas pelos homens. e pelas moças. e pelas crianças. a limpeza que se pretendia com aquele mar claustro ocorria lentamente. e o amor permanecia confuso, porém jamais confundido com as coisas heterogêneas que formavam as sujeiras todas. se tens um amor assim, tens, portanto, um amor limpo. e gasto. e pálido. tens um amor afogado. de algum modo, o amor é sempre esquecido.