ouviu sobre o amor
enquanto ainda menino
algo sobre as mãos formigarem
e o estômago ficar mexido
pensou assim
que o amor era algo mau
a bagunçar as barrigas
só de falar o nome da amada
desistiu do amor ainda moço
já que ainda não sabia conhecer nada direito
não gosto de estômago mexido e mãos malucas
e eu que sou menino não preciso
ouviu sobre o amor outra vez
agora já mais rapaz
algo sobre completude
e sobre morrer por outrem
pensou assim
que o amor deixa o corpo empanzinado
com preguiça de fazer as coisas que a mãe pede
e que o amor toma as vontades das coisas
largou de mão o querer do amor
não se pode deixar o trivial da vida assim
e foi logo limpar os varais
das roupas que a mãe pedira pra catar
foi então que o amor se esqueceu dele
levou para longe do moço as pessoas de conhecer
como passarinhos que não devem voltar
e o menino chegou rapaz sem saber de nada
se deu conta mais tarde
que a vida é feita de ruas vivas
que vão levando as coisas longe
e quando se apercebe já passaram
cismou que o amor era grande
e que não chegara ao seu quarto pelas janelas
que eram miúdas e impediam tudo de escapulir ou entrar
sabia agora que o amor ficava depois das janelas e dos varais
sem muitos vinténs
seguiu pelas ruas vivas até exaurir os joelhos
que escangalhados se dobraram diante do amor
e viu que grande era sim sentir o amor
agora com as rugas plantadas na cara
pensou que o amor poderia ser bom
que não empanzina nem faz de ninguém preguiçoso
o amor esvazia tudo para outra pessoa caber