preto e branco

as mãos apoiavam piedosas o queixo fino em barba rala enquanto os lábios moviam-se lentos sussurrando uma canção vazia aquele moço apoiado à cadeira tinha as pernas trançadas e os calcanhares em círculos dançando uma canção vazia lembrava da moça antiga que inaugurara as desventuras de seu peito e de como as forças vacilavam quando …

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coração de gaveta

fez que sim com a cabeça já que o coração não falava não falava nada nem um pio sequer deve ser mudo ou se faz congelado esse meu coração foi assim que aceitou o pedido amargo da moça morena que aflita pedira ao rapaz que partisse dali pra fora com as pernas ainda trêmulas e …

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fantasmas de seda

dizem que as casas sozinhas são danadas para guardarem fantasmas fantasmas e seus lençóis fantasmas de seda e que as cortinas grávidas das casas sozinhas com suas barrigas aumentadas quando aumentam-se os ventos parem fantasmas aos bocados dizem também que as casas habitadas por pessoas e crianças desmazeladas admitem fantasmas e monstros que proliferam quanto …

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palavras

para algumas palavras, melodia. para outras, alguém.

quando ela sorri

ela é do sol eu sou do vento ela é o mar em qu’eu invento de navegar e navegar ela é o céu eu sou o tempo menina azul e eu atento pra não passar e ela passar fica sem medo aqui a esperar tudo o que há de bom que paro pra descobrir o …

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o fora de tudo

espécie de um milagre. é uma espécie de milagre. o fora de tudo. a folha, a flor, a casca, a pétala. a pele, não o coração. os olhos, não a alma. o sorriso, não a calma. o fora da árvore. o fora da gente. o fora de tudo. dizem assim: amor não se guarda; se …

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e se eu te contar

e se eu te contar qu’ela é desmiolada e que anda pela estrada sem pedir carona alguma e se eu te contar qu’ela não tem juízo e que faz o que é preciso pra ser feliz e nada mais e seu eu te contar qu’ela é doida de pedra e que a única coisa que …

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coração de tinta

pulou de um quadro pregado na parede havia bom tempo sem ninguém olhar vestido amarrotado pés descalços e uma flor deitada sobre a orelha bem coberta pelos cabelos muitos trazia olhos castanhos unhas por fazer e um laço que abraçava a cintura toda e ostentava um lilás qualquer vivia nas paredes bonita que só vendo …

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todo o espaço do mundo

não se trata de almas coladas, tampouco de dois semelhantes. não. o amor não fala disso. o amor trata de espaço, lacuna, vão. da distância. sim, do estar longe. o amor não é uma ponte. nem escada, chão, laço. não é uma dessas coisas de costurar almas e mãos. não. não é disso que trata …

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janelas

os corpos descascados das crianças – verves e imundos – ficam desabituados com a inocência, que é um modo de pele. e, quando há um novo ano, aquelas migalhas de gente – já desacostumadas com o não saber das coisas – põem-se logo muito altas e maduras. de algum modo, somos todos gentes descascadas pelos …

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