gula

os amores engasgados nos estreitos das gargantas não servem como alimento para as barrigas mais famintas que mexidas pretendem amar as borboletas no estômago alimentam mais do que esses amores os frios na barriga alimentam mais do que esses amores mas a fome de você insiste

amarelo

quando a preguiça acalenta o sol, um pálido amarelo deita às ruas e às casas, costuradas por tijolos expostos. e nesse momento, penso em nada. o mesmo nada dos balões: lindos pelas cores e formas, porém repletos dos ventos muito secos das bocas cansadas. quando o sol amarela o meu rosto, penso nos balões. e …

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vento

a noite é muda. e há um vento assoprado pela boca gigante do céu. venta com um hálito muito gelado. venta lento. lento como um pincel. o vento é um pincel lento a escavar os homens cá na terra. homens engolidos pela boca gigante do céu. homens sem palavras. mudos como a noite. a noite …

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tralhas

eu não deveria guardar tantas tralhas no íntimo da cabeça. está a parecer uma cômoda muito sofrida, de cujas gavetas brotam roupas das crianças mais miúdas. não se encontra nada que preste. haver como desligar-me seria muito motivador. às vezes, queria calar-me junto ao abajur. estar de súbito sem luz alguma seria um bom modo …

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sobre uma coisa dessas

à noite, me ponho a fechar a janela do quarto de um modo muito lento, porque tapar a janela é um modo de recusar o céu. e não se recusa uma coisa dessas. ainda que noite, há céu. ainda que dia, e as nuvens cicatrizem-se e fechem-se numa costura muito branca, há céu. ainda que …

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nós

qual de nós tangencia mais ao propósito de nos ver serão necessários laços nós para nos obrigar ao eterno como faz com as caravelas que sem nós soltaram as velas e partiram será preciso um punhado de nós para alcançá-las ou nada para que não voltem quem de nós é só um de dois eterno …

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desarrumo

ficou de ponta-cabeça parecendo desajeitado sem perfumes e sons com nada de ninguém faltou pensar bem moça antes de dar no pé e virar tudo fazendo da vida um peão que gira gira cambaleia cai e eu que gosto dos lençóis lisos perdi as vontades todas já que preferia sempre o seu peso a fazer …

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mulher

desabotoou as costelas como se fosse possível despir-se da pele e ser só alma lançou-se ao mundo onde as pessoas cegas enxergam às pressas somente o que podem tocar era uma moça-fantasma a vagar pelas ruas sem sangue carne veias ossos e os destroços do coração desprendida e pálida sem as manchas dos batons e …

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ninar

a criança morna pelo banho deita-se acanhada à cama da mãe e clama a esta uma história sobre princesas dragões e heróis a mãe toda desconjuntada pelo pedido singelo da miúda não permite-se a recusa de algumas palavras e põe-se logo a contar diz que há coisas melhores e que há pessoas melhores lá fora …

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varanda

veio o vento dançarino e distorceu tudo por um descuido ou por amor veio barulhar seus cabelos eu bem queria ser feito de vento e bajular seu rosto e na varanda a lua a esmaltar seu sorriso esqueceu-se de mexer no mar eu debruçado com flores nos braços a ver a lua brincar de você …

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