todo o espaço do mundo

não se trata de almas coladas, tampouco de dois semelhantes. não. o amor não fala disso. o amor trata de espaço, lacuna, vão. da distância. sim, do estar longe. o amor não é uma ponte. nem escada, chão, laço. não é uma dessas coisas de costurar almas e mãos. não. não é disso que trata o amor. ele é o precipício, o vazio. falta. a falta. é o emburro na cara, a ligação não feita. a carta guardada e os portões sem ninguém. o amor está na solidão dos portões: vazios, enferrujados, mudos. o amor é o pretender; a vontade; a lástima quando a chuva impede. é a alma embutida num sofá magoado, com pantufas e pijama: o amor é um pijama listrado que esfrega à cara a miséria da solidão quando há vontade de estar. estar. e ser. o amor é todo o espaço do mundo dentro de mim, sempre a pretender que caiba alguém.