poema dos conselhos

não feche a porta a estranhos
para que quando nos desconhecermos
e ficarmos irreconhecíveis um ao outro
não nos deixemos à rua

não faça troça aos tropeços do outro
para que quando nos perdermos todos
e ficarmos sem pai sem mãe sem rumo
não nos amputemos do coração oposto

não mude a calçada ao inimigo
para que quando nos digladiarmos
e ficarmos feito tolos adversários
não nos faltemos com o respeito antigo

não insista em cavar defeitos ao indivíduo
para que quando nos reconhecermos imperfeitos
e ficarmos pasmados com nossos trejeitos
não nos privemos de correção

não apresse-se a casa de quem se ama
para que quando faltar a cama
e ficamos sem saudades ou chama
não nos esqueçamos do que é a solidão

não desista dos sentimentos tão caros
para que quando nos restar apenas o desemparo
e ficarmos magoados abandonados ou mexidos
não nos faltem ombros ou ouvidos para desabarmos

e não mas mesmo não bata a porta ao sair
para que quando nos faltar da chave a cópia
e ficarmos do outro completamente fora
não nos descuidemos pois a chave está dentro