medo do escuro

despertou de repente
na metade da noite
olhos esbugalhados
e com o coração inquieto

logo esticou os braços
para ver se a mãe ali estava
já que mãe é igual aos morros
que cercam os maus de se achegarem logo

não havia pista de luz alguma
a lua já dorme nessas metades de noite
senão não se aguenta brilhar
nas noites escuras seguintes

o rosto úmido revela
que as coragens todas evaporam
quando a noite nasce
e o escuro domina os quartos todos

o miúdo já encolhido
com os braços a rodear as canelas
queria ter um bocado de coragem logo
para defrontar o medo do escuro

desprovido de qualquer bravura
pôs-se a pensar em coisas boas
algodões-doces e sorrisos
achava que o medo morria assim

descobriu pois como estragar o medo
e fez do escuro uma arte particular
onde podia ser o que quisesse
podia ser até feliz se merecesse

cresceu assim sem sol algum
a morar em todos os escuros
onde todos os medos caminham juntos
e luz alguma magoa os olhos

preferiu assim do que luz
e tentou até apagar o sol
num dia desses de verão
onde as pessoas todas eram felizes

pensou logo nos infinitos
e no que teria consigo para sempre
pensou em algodões-doces e sorrisos
achava que deveria morrer assim