o homem vazio

esvaziou a casa
de toda luz
de todo som
e ruídos das coisas sabidas

a palma da mão
calma e sem alma nenhuma
emagrecia o queixo
pálido à barba

deixava os ventos pela janela
ricochetearem nos cabelos breves
cheirava fundo
e sentia coisa nenhuma

homem limpo
das ideias e do caos
amálgama
amor e nada

as velas magoadas
iluminavam o silêncio
dos pensamentos prematuros
em uma cabeça grávida de nada

e essa coisa de pensar
pensava
e essa coisa de amor
amava

descombinado e sujo
intrépido porém
queria pensar um bocadinho
só um bocadinho em nada

a valentia fina
escorria pelas orelhas
da cabeça pendente
farelando o chão

formavam castelos
montanhas ou algo assim
dessas coisas grandes
cheias das miudezas todas

era muito vazio
um homem vazio por dentro
que só se fazia esvaziar mais
para construir pensamentos