cabeça de vento

esqueceu-se de si mesma
procurou no espelho alguma pista do que era
só encontrou olhos marejados
lábios finos um sorriso apoucado

mas que cabeça a sua menina
esquecer-se de si assim
ainda tão moça de idade pouca
que não deveria saber esquecer

esqueceu-se da chuva também
que indiferente fora esbravejar longe
com seus trovões e tristezas
fez chover em outro jardim

mas que cabeça a sua menina
esquecer-se da chuva assim
ela bem que poderia lhe dar arco-íris não sabe
toda moça já viu um arco-íris

esqueceu-se agora das estrelas veja só
que magoadas morreram de vez
ou foram à júpiter iluminar os estrangeiros no universo
e como é que ficarão as noites agora valha-me deus

mas que cabeça a sua menina
esquecer-se das estrelas assim
elas formavam tantas coisas no céu
e faziam de nós dois dois às vezes

esqueceu-se por fim de mim
que defeituoso permaneço inerte
como aquelas coisas de enfeitar os quartos
ornamentando corações bastantes e bastardos

mas que cabeça a sua menina
esquecer-se de mim assim
que frequentei os sonhos e os pensamentos
dessa jaz sua agora cabeça de vento