alma

um frio das florestas fechadas um fio bucólico que empedra e amarra com atrapalhação a cabeça nada desenvolve nada avança há mudo em tudo há tudo guardado está lento é calmo está longe é palmo são sobras de carne e ossos maduros nenhuma outra coisa dizem assim as pessoas sobre os desalmados nenhuma outra coisa …

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outro lado

ela finge que flor eu jardim desarrumado verbaliza o amor eu sem nem um predicado ela faz como quer eu só sei o mesmo passo ela gela o pé eu só deito desse lado da cama da vida do coração ela samba no pé eu sou bem desajustado sempre diz o que quer eu me …

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ladainha

mancha ruça num céu quieto figura escura em janela entreaberta e uma cortina gorda gorda e lenta assopra cansada luz miúda no fim do bairro rua úmida desmazelada e morna nenhuma gente tonta ou orla nada que ondule que apareça nada nenhuma coisa de acontecer vento no encalço no pescoço feito um laço uma gravata …

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menina de ameixa

deixa cá o queixo menina e o lilás do rosto na luz miúda da sala que deixo a alma imensa menina como propensa ao caber de qualquer infinito que haja deixa o cabelo mecha menina e o batom fugido pelos beijos que me fez que deixo o tempo parado menina guardado num relógio mudo sem …

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essa história

ela na minha janela em serenata vinho tinto a dizer que casar é tudo de bom e eu aqui limpando louça domesticado insensível a desconsiderar todo aquele som moça volta pra casa que se sua mãe chega se seu pai cisma vem aqui’m casa que se sua mãe liga minha mãe briga cheia de armas …

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vou te contar da saudade

ficamos corpos atrasados um ao outro cada qual para cada canto disjuntos numa lonjura de dar dó enfezados e desmazelados com as coisas de sentir vou te contar da saudade que se tem e não que se sente ter de possuir e não de sentir não de intuir não de suspeitar os braços que abraçam …

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escrevo por nada

– ao joão cabral de melo neto, pela morte e vida severina (auto de natal pernambucano) – não é nem pelo cozido da carne que o tempo faz nem pelo escuro da pele que o sol inventa nem pelo maduro das almas guardadas nas caixas e nem pelo escarcéu das famílias vendo a quem a …

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quando o sono abandona

deve-se saber que o breu da solidão destempera a alma, mas não tira-lhe o gosto. às vezes, é preciso que o ser esteja um bocado insípido para que purifique o próprio paladar. é possível saber disso e dormir, ainda que isso demande por algum tempo as luzes acesas.

para não dizer

a fome causa às barrigas barulhos que as casas à noite também têm. os ruídos significam que algo existe. a existência rui. portanto, o silêncio é o não do existir. é ausência. falta. é uma forma de morte. mudo pela boca. gritam as mãos.

mesa pra dois

o esticado dos olhos – muito maduros – deixa à mostra seu desamparo sereno. e os espelhos abandonados, porque não se veste mais de moça por sair, esqueceram-se do seu rosto encantado. decidiu-se pela solidão ou é só um daqueles silêncios de matar, moça? a gente bem podia jantar e não dar um pio sequer; …

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