vitrais

silêncios alagados pretendem dizer que os amores todos são vitrais saudades agigantadas pelos tempos futuros dão aval para a culpa dissentir de si mesma corações de vidro expostos nos varais penduram e perduram para alguém os fraturar e se o vento bate os derrubam corações espatifados formam vitrais

cabeça de vento

esqueceu-se de si mesma procurou no espelho alguma pista do que era só encontrou olhos marejados lábios finos um sorriso apoucado mas que cabeça a sua menina esquecer-se de si assim ainda tão moça de idade pouca que não deveria saber esquecer esqueceu-se da chuva também que indiferente fora esbravejar longe com seus trovões e …

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abajur

ela sobrepõe meu pálido abajur – escurecendo as palavras que eu lia. a silhueta faz zombar das coisas de saber, e o feixe de luz que me resta é imprestável. é que ela perfuma os instantes. ela é o cheiro do tempo. eu, recostado à cadeira enegrecida, faço de conta que não é nada demais. …

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doce

quando tratam as mulheres com gestos maus, os homens falham demasiado: colocam-nas à semelhança de uma desimportante abstração. deixam-nas escapar com pouca demora; não sabem o quão encantador é quando uma moça se deixa demorar. a demora faz nascer a eternidade. os homens maus exaltam a efemeridade; para eles as mulheres estão, e não são. …

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indulto

contam as pessoas que a saudade faz sepultar os equívocos de toda a gente que já não tem dias. a distância entre a última vista do corpo e a lembrança, que se faz inflamada, é a lacuna que faz morrer num salto tudo o que foi feito por ato desajuizado dos homens-raiz. as pessoas cujos …

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ei moça

ei moça e essa blusa comprida que ultrapassa as mãos a tapar o que a mágoa fez das unhas e essa calça moletom desbotada e cinza feito um céu quando o sol dorme sobre as nuvens ei moça e essas cartas sepultadas entre as flores entornadas à soleira da porta e essa cara furiosa a …

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mulher de papel

recolhida numa grama soprando um dente-de-leão pernas enviesadas pelo longo do vestido cabelos cata-vento concediam ao vento o direito de levar ao longe os pensamentos naquele moço os pés rosados combinavam bem com as unhas devoradas pelas saudades prematuras as recusas do estar perto e das esperanças engorduradas não serviam para nada pois nada emagrece …

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o homem vazio

esvaziou a casa de toda luz de todo som e ruídos das coisas sabidas a palma da mão calma e sem alma nenhuma emagrecia o queixo pálido à barba deixava os ventos pela janela ricochetearem nos cabelos breves cheirava fundo e sentia coisa nenhuma homem limpo das ideias e do caos amálgama amor e nada …

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o filho da estrela

foi filho um pouquinho só e a mãe foi logo aos céus ser anjo ou estrela era o que lhe diziam a parentalha era eu insuficiente demais por isso ela achara melhor subir e cuidar das crianças mais completas que formam as estrelas menores pensava nisso bem calado com as mãos sob as pernas franzinas …

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o lápis e a parede

quando morrem as crianças e os espelhos das casas ficam esvaziados de sorrisos as mães permanecem silentes há os buracos nas almas e as camas ajeitadas e os lápis que não magoam mais a solidão branca das paredes as avós logo arrumam costuras por fazer nas calças ou uma dessas coisas calmas que não fazem …

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