grave

que houve ao abrires a portapara que o incansável silêncio rompesse-seà minha boca vedada por mágoasincerta e solene a dizer o teu nome em palavras que tens que não estancasentornada à sacadaa contar estrelase dizer que por vê-las podes tocá-las que guardas contigoà pele à carne à almaa calma dos sinosa dobra à palavra que …

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casa na árvore

vamos fazeruma casa na árvoree morar para sempreaté a mãe chamar pra janta vamos fazeruma casa na árvorecom um canto pros livrose para as histórias de nós dois vamos fazeruma casa na árvorepara não dizermos que não fomos longeafinal é o mais alto que podemos chegar juntos vamos fazeruma casa na árvoresem relógios tempo desimportanteaté …

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o homem mais pequeno do mundo

o mais pequeno homem é capaz de amar
até mesmo ele
porque o amor não foi feito apenas para os grandes tamanhos
e não é preciso que se suba aos tamancos para amar
um senhor já muito velho e muito tímido
amava os seus filhos e os filhos de seus filhos
e os animais cuidados pelos netos também
o amor é feito seiva elaborada na árvore genealógica quero dizer

poema dos conselhos

não feche a porta a estranhospara que quando nos desconhecermose ficarmos irreconhecíveis um ao outronão nos deixemos à rua não faça troça aos tropeços do outropara que quando nos perdermos todose ficarmos sem pai sem mãe sem rumonão nos amputemos do coração oposto não mude a calçada ao inimigopara que quando nos digladiarmose ficarmos feito …

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até ao fim

deus quer matar-nos à fomedizia a mulher ao pequenoque abraçava as canelasa esconder a barriga funda muito funda não devemos nunca falar assim dizia eleporque se deus se zangar conoscopoderá arrancar-nos tudo o que ainda temosum ao outro sabiam ambos que as noites são sempre mais compridasquando não se tem nada na barrigasobe ao peito …

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a canção esquecida

gostaria hoje de lavar os dentes e sair ao fora da casa ao dentro do mundo ao cimo da rua ao baixo de tudo de tudo o que o mundo é mas falta-me a coragem e um batom adequado um sapato pontiagudo e um vestido liso porque não está pela época das flores e as …

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a rua espera até ao fim

a mãe da minha mãe ralhou-me quando uma vez mais parti a cara e os ossos menores em mais um acidente gravíssimo no mesmo lugar da mesma rua disse-me assim andas à cata da morte mas tens por hábito a sorte por não teres batido as botas embora insistas demasiado em mutilar-se o pai da …

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o cão falecido

deveríamos escapar à morte para que não partíssemos súbitos feito o cão falecido do meu irmão vi quando ainda tremia das pernas inconformado a perguntar à mãe se havia algum céu ou um deus que prestassem socorros e cuidados aos cães desligados partíamos e repartíamos palavras e a minha mãe já exausta não mais suportava …

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a ver e não haver

já não tínhamos móveis em casa e os ecos tagarelas eram como se disséssemos tudo repetidas vezes mas não dizíamos nada preferíamos implodir palavras a dizer asneiras éramos feito mudos quando já não tínhamos móveis em casa e já não tínhamos felicidade em casa como se a tristeza se instalasse por lei decreto ou vontade …

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diálogo VII

eu tenho tudo disse o tempo eu tenho os perfumes disse o vento mas eu tenho tudo disse o tempo e eu tenho os tempos disse o vento mas não é tudo pois tudo eu tenho disse o tempo tens o que se perde o que se mede e o que se pede disse o …

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